terça-feira, 20 de março de 2012

PRECE

"Sursum Corda" - Corações ao Alto!



Corpo e alma
Prostrados
Aos pés
Da Virgem Maria.

O coração ao alto,
Cheio de fé,
De amor,
Para rezar
E agradecer,
Pedir, 
Agradecer.


Nazareth Peres
Visita em 17/01/2012 à Basílica de Aparecida - SP - 
A casa da Mãe.

domingo, 18 de março de 2012

Autorretrato

Do alto dos meus
Setenta anos,
Revejo os fatos
Que marcaram
A minha vida.

Fui a primeira filha,
Alfabetizada pela mãe.
O pai, tão simples quanto ela,
Comprava jornais
Que eu lia com prazer.

Tive ímpetos de independência
Aos onze anos:
Queria morar sozinha,
Para poder fazer
O que quisesse,
Quando quisesse.

Tenho uma irmã
E bem mais tarde,
Um irmão.

Nas brincadeiras infantis
Eu era a líder
Que levava o grupo
Para onde eu queria.

Depois, a escola.
A igreja do bairro,
Que nos proporcionou
Entre outras coisas,
Uma sala de leitura
Com escolhas diversas.
Uma visão além do tempo,
Dos padres holandeses
Com quem convivemos.

Chegou a adolescência,
E o Curso Normal
Para Formação de Professoras.
Não havia outra opção
Para as mocinhas
Dos anos cinquenta.

Em seguida:
O casamento, os filhos,
O trabalho no magistério.
Alcancei tudo a que me propus
Na profissão e na vida.

Sou hoje,
Como sempre fui.
Eu me defino:
Uma qualidade - persistência.
Um defeito - teimosia.
Essas são as minhas marcas.

Os que me amam,
Dizem que sou agregadora.
Mas há quem me julga ser
Controladora.

Na vida atual
Com filhos e netos,
Genros e nora,
Numa grande família.
O marido partiu
Muito cedo
Para a Casa do Pai.

Eu me sinto bem
Ao recordar as boas coisas
E considerar irrelevantes
Os maus momentos,
Transformando-os
Em aprendizagem.

Meu lema, copiei
De uma autora dinamarquesa:
"Existe em mim,
Uma menina,
Que se recusa a morrer."

Como esse autorretrato
Se assemelha a um necrológio!
Mas é como quero
Que se lembrem de mim,
Os que me amaram.


Nazareth Peres
Oficina de Literatura  - Poesia - com Heitor Ferraz Mello
SESC Belenzinho - nov/dez/2011

segunda-feira, 12 de março de 2012

"Autorretrato"

"A guerra dos cinquenta
está sendo travada no teu rosto.
Reconhece o primitivo traçado?
Forças de ocupação abrem trincheiras, armam emboscadas.
Facções antagônicas avançam sobre tua face,
bloqueiam as principais artérias,
praticam pequenos furtos:
molar, miopia, pai, memória.
Há anos bombardeiam
feridas mal curadas,
desembarcam camufladas
nas praias minadas do sonho.
O combate se desenrola diante dos teus olhos.
Na vala comum do espelho
resta uma sensação incômoda:
a vida é colaboracionista."


Augusto Massi  - Ilustração de Waltércio Caldas -
Caderno Ilustríssima, página 8 da Folha de São Paulo.
Domingo, 11 de março de 2012.

sábado, 10 de março de 2012

Pré-natal

A gestante acorda encharcada
E pensa:
"O que está acontecendo?"

Levanta-se assustada,
E percebe estar envolvida
No sangue vivo da hemorragia.

Alvoroço familiar,
O socorro,
A maternidade.

Prematuridade!
Quem era uma esperança,
Aos quatro dias de vida,
Torna-se saudade.

Janeiro/2012 - Nazareth Peres

domingo, 4 de março de 2012

O temporal

É verão.
Ela vem caminhando
Descalça pela rua de terra.
Olha o casario simples
Rodeado pelo mato.

Ela volta para casa
Toda contente.
Percebe ao longe
O temporal que se aproxima,
Quase inesperado.

Parece uma cortina
Que vem compacta,
Para envolvê-la.

Os primeiros grossos pingos
Da chuva de verão
A atingem.

Logo, ela está toda molhada.
Não tem pressa.
Não corre.
Ergue, feliz, o rosto e as mãos
Para a chuva refrescante.

Seu vestido de algodão
Se cola ao corpo de menina.
E ela caminha firme
Até a sua casa.

A mãe a espera
Com um banho quente na bacia.

Veste uma roupa seca.
Toma um copo de leite morno,
E se recompõe.
Como é bom viver!



Nazareth Peres
08/01/2012