quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Memórias de uma chaleira

Dentro da caixa de papelão,
Onde fui colocada,
Fiquei esquecida por muito tempo.

Era tudo escuridão.
Não podia ver nada,
Mas podia ouvir o que se passava:
Os ruídos da casa
E os risos das crianças.
Sentia também os cheiros da cozinha.

Percebia a presença das pessoas
Ao redor da mesa,
Nas refeições diárias,
E principalmente,
Nos concorridos e alegres cafés
Das tardes de domingo.

Ouvia as conversas,
Os desencontros de opiniões,
O papo descontraído,
As fofocas familiares,
Os grandes projetos.

Um dia, que sorte!
Lembraram-se de fazer
Uma bela faxina
Nas prateleiras inatingíveis
do cotidiano.

Fui resgatada do meu exílio
E posta em uso.
Minha dona não se lembra
De como ou porque
Vim parar na sua casa,
Eu, a humilde chaleira
Que nem nova sou.

Mesmo assim,
Ela me mantém
Brilhosa e bonita
Para ferver a água do café
De todos os dias.

Sou olhada com indiferença,
Mas não me importo.
Agora me sinto útil outra vez.

Oficina de Literatura - - Poesia - com Heitor Ferraz Mello - SESC Belenzinho - nov/dez/11

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