domingo, 16 de setembro de 2018

Antigamente







Antigamente...
Histórias  de  antigamente...

    Antigamente... que palavra mais antiga!

            Havia uma menina – tinha seis anos e sua irmã, quatro.
            Que bonitas elas eram!
Seus pais e elas foram morar numa vila que não tinha luz elétrica, nem água encanada, nem asfalto nas ruas.
            Quando chovia, era só barro!
            Uma vez uma fábrica de louças da vila despejou caminhões de cacos de louças nas ruas, para melhorar a caminhada.
A água que se usava era puxada no poço, e para iluminar, à noite se acendia o lampião a querosene. E não havia rádio...
Em compensação, havia muita vegetação e córregos limpos de água corrente, com pinguelas estreitas para atravessar. Que medo!
Muitas florezinhas vermelhas,  cor-de-rosas, amarelas, roxas e azuis  enfeitavam os campos. Que beleza!
E frutinhas silvestres como a gabiroba, semelhante à goiaba,  e a “maria-pretinha”, parecendo uva. Que delícia!
Ir à escola era uma aventura, uma viagem! Caminhava-se muito tempo,  por trilhas ao longo  dos córregos ladeados de arbustos e flores.
E lá iam para a escola, a menina, sua irmã e amiguinhas.

 
A casa da menina era num grande terreno, cheio de flores, frutas e verduras que a mãe plantava.
Havia também um pombal, um chiqueiro com uma porca e seus porquinhos e galinhas no galinheiro.
E assim, a carne estava garantida nas refeições.
O sanitário era uma casinha de madeira construída em cima de uma fossa negra. Sem chuveiro, o banho “de corpo inteiro” era  aos sábados, no bacião no meio do quarto.
Nos outros dias era o “meio-banho” na baciinha. Outros tempos!
A mãe fazia  simples mas lindos vestidos iguais para as filhas.
Eles eram de cores lisas, estampadas de listras ou flores.
Na verdade, a menina não gostava muito de se vestir igual à irmã.
Sentia-se num “par de vasos”.
Então, a família começou a frequentar a igrejinha da vila.
Um dia, a menina achou na rua uma nota de vinte cruzeiros.

Quem a havia perdido? Não se descobriu. Com esse dinheiro a mãe

comprou fustão branco de algodão e um filó para o véu e fez um  vestido para a primeira comunhão da menina.
Só quem é daquele tempo, sabe o que é fustão ou filó!
            Na tarde deste importante dia a vizinha tirou um “retrato”  (assim se falava) das crianças.
A menina guarda a fotografia desbotada. Ela está ajoelhada numa cadeira no quintal, com um  missal aberto nas mãos, fazendo pose.
Que saudade!
            Nessa época  a igreja organizou a Associação dos Santos Anjos.
A catequista ensinou a oração do  Anjo da Guarda:
“ Santo Anjo do Senhor,
Meu zeloso guardador.
Se a ti me confiou a piedade divina,
Sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém.”
E também se aprendeu o hino:
“ Ó  meu  Anjo da Guarda, fiel protetor...
...Na vida e na morte o meu guia serás
e do eterno degredo, livrar-me, tu hás.”
Quanta palavra difícil!
            Ah!  Havia uma fita cor-de-rosa com uma medalha do Anjo da Guarda, que se usava sobre o peito  com um uniforme  branco...

Aí começou a construção da nova igreja e se pediu a colaboração dos fiéis.
            A mãe da menina era criativa: embrulhou um tijolo e entregou como oferta na hora da missa.
            O padre agradeceu e usou a idéia para lançar uma campanha:
            “ Dei um tijolo para a construção do Santuário. ”
            Foram feitos cartões com um terço desenhado. Cada conta preenchida representava um valor, simbolizando um tijolo. Foi um sucesso!
            O tempo foi passando.
E o Santuário ficou pronto!

            Muitas festas e brincadeiras  com as amiguinhas, e a menina foi crescendo.
            Em 1950, a menina já mocinha - há quanto tempo -  mudou-se com a família para outra casa.
            Lá havia então a eletricidade e se podia ouvir no rádio as notícias, as músicas, os programas humorísticos as rádio-novelas. Que emoção!

            E essas lembranças marcaram para sempre a infância da menina.
            E depois?
            DEPOIS, É OUTRA HISTÓRIA!

                                               Sabem onde aconteceu tudo isso?
                                               - Na Vila Formosa, em São Paulo.
NAZARETH LEMOS MALDONADO PERES    - em 29/03/2006
Para os meus netos: Luiza, César, Víctor, Beatriz, Marina e Gustavo.
(Também para o meu sétimo neto: Gabriel, que nasceu em 2008).

Crédito das fotos:
Fotos: - as 4 primeiras, arquivo familiar.
             - as duas últimas, arquivo do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, Vila Formosa – São Paulo - SP.



A FALTA QUE A FALTA FAZ