domingo, 13 de maio de 2012

"Violeiro"

     "Morrer cantando não é para qualquer vivente. Violeiro que assim vai deixa rastro de aura num jardim, onde em findas tardes de outono se ouve ou se desenha uma canção.
     Fantasma diurno, fantasma de luz contra o sol que se esvai, ressurge o Violeiro, saudoso dos prazeres dessa vidinha à-toa. Não traz correntes, mas gemidos. De pura preguiça e amor.
     A amada? Casou faz tempo. Mas em tardes assim se arrepia, se tranca no quarto, solta os cabelos todos, põe camisola de seda, alisa as penas da passarinha e relembra o que já não há.
     Dia seguinte, volta a amada aos trilhos e o Violeiro ao canto dos que assim se arrematam, espocando como cigarras ou ousando serenatas no terreno proibido que às vezes é o jardim de uma flor que já tem dono."


  do livro: "Volições" de Yara Camillo - página 151 - Massao Ohno Editor - 2007.
(Volições: atos que determinam a vontade)

Participei de um Laboratório de Literatura no SESC Belenzinho - abril/maio/2012 com Yara Camillo sobre a semana de 22.

Considero este texto como poético. Uma poesia em prosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário