Antigamente...
Histórias de
antigamente...
Antigamente... que palavra mais antiga!
Havia uma menina – tinha seis anos e
sua irmã, quatro.

Que bonitas elas eram!
Seus pais e elas foram morar numa vila que não tinha
luz elétrica, nem água encanada, nem asfalto nas ruas.
Quando chovia, era só barro!
Uma vez uma fábrica de louças da
vila despejou caminhões de cacos de louças nas ruas, para melhorar a caminhada.
A água que se usava era puxada no poço, e para
iluminar, à noite se acendia o lampião a querosene. E não havia rádio...
Em compensação, havia muita vegetação e córregos
limpos de água corrente, com pinguelas estreitas para atravessar. Que medo!
Muitas florezinhas vermelhas, cor-de-rosas, amarelas, roxas e azuis enfeitavam os campos. Que beleza!
E frutinhas silvestres como a gabiroba, semelhante à
goiaba, e a “maria-pretinha”, parecendo
uva. Que delícia!
Ir à escola era uma aventura, uma viagem!
Caminhava-se muito tempo, por trilhas ao
longo dos córregos ladeados de arbustos
e flores.
E lá iam para a escola, a menina, sua irmã e
amiguinhas.
A casa da menina era num grande terreno, cheio de
flores, frutas e verduras que a mãe plantava.
Havia também um pombal, um chiqueiro com uma porca e
seus porquinhos e galinhas no galinheiro.
E assim, a carne estava garantida nas refeições.
O sanitário era uma casinha de madeira construída em
cima de uma fossa negra. Sem chuveiro, o banho “de corpo inteiro” era aos sábados, no bacião no meio do quarto.
Nos outros dias era o “meio-banho” na baciinha.
Outros tempos!
A mãe fazia
simples mas lindos vestidos iguais para as filhas.
Eles eram de cores lisas, estampadas de listras ou
flores.
Na verdade, a menina não gostava muito de se vestir
igual à irmã.
Sentia-se num “par de vasos”.
Então, a família começou a frequentar a igrejinha da
vila.
Um dia, a menina achou na rua uma nota de vinte
cruzeiros.
Quem a havia perdido? Não se descobriu. Com esse
dinheiro a mãe
comprou fustão branco de algodão e um filó para o
véu e fez um vestido para a primeira comunhão
da menina.
Só quem é daquele tempo, sabe o que é fustão ou
filó!
Na tarde deste importante dia a
vizinha tirou um “retrato” (assim se
falava) das crianças.
A menina guarda a fotografia desbotada. Ela está
ajoelhada numa cadeira no quintal, com um
missal aberto nas mãos, fazendo pose.
Que saudade!
Nessa época a igreja organizou a Associação dos Santos
Anjos.
A catequista ensinou a oração do Anjo da Guarda:
“ Santo Anjo do Senhor,
Meu zeloso guardador.
Se a ti me confiou a piedade divina,
Sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém.”
E também se aprendeu o hino:
“ Ó meu Anjo da Guarda, fiel protetor...
...Na vida e na morte o meu guia serás
e do eterno degredo, livrar-me, tu hás.”
Quanta palavra difícil!
Ah!
Havia uma fita cor-de-rosa com uma medalha do Anjo da Guarda, que se
usava sobre o peito com um uniforme branco...
Aí começou a construção da nova igreja e se pediu a
colaboração dos fiéis.
A mãe da menina era criativa:
embrulhou um tijolo e entregou como oferta na hora da missa.
O padre agradeceu e usou a idéia
para lançar uma campanha:
“ Dei um tijolo para a construção do
Santuário. ”
Foram feitos cartões com um terço
desenhado. Cada conta preenchida representava um valor, simbolizando um tijolo.
Foi um sucesso!

O tempo foi passando.
E o
Santuário ficou pronto!
Muitas festas e brincadeiras com as amiguinhas, e a menina foi crescendo.
Em 1950, a menina já mocinha - há
quanto tempo - mudou-se com a família
para outra casa.
Lá havia então a eletricidade e se
podia ouvir no rádio as notícias, as músicas, os programas humorísticos as rádio-novelas.
Que emoção!
E essas lembranças marcaram para
sempre a infância da menina.
E depois?
DEPOIS, É OUTRA HISTÓRIA!
Sabem
onde aconteceu tudo isso?
-
Na Vila Formosa, em São Paulo.
NAZARETH
LEMOS MALDONADO PERES - em 29/03/2006
Para
os meus netos: Luiza, César, Víctor, Beatriz, Marina e Gustavo.
(Também
para o meu sétimo neto: Gabriel, que nasceu em 2008).
Crédito
das fotos:
Fotos:
- as 4 primeiras, arquivo familiar.
- as duas últimas, arquivo do Santuário de
Nossa Senhora do Sagrado Coração, Vila Formosa – São Paulo - SP.
Parabenizar uma poetisa com poesia,
ResponderExcluiré redundância.
Desejar felicidade a alma poeta,
é inconstância.
Pois,
é ser rima, é ser verso, o poeta
é a magia no ser diverso...
Lindas suas histórias, me sinto em devaneios...
agradeço por compartilhar
Rodrigo Rocco
Conheço esta igreja desde pequenino, qdo passava as férias de julho na casa dos meus tios e primos que fica muito próximo ao santuário.
ResponderExcluirSempre me chamou a atenção!
Agora com essa história rica em detalhes me deu vontade de voltar lá, conhecer ela internamente, e quem sabe, assistir uma missa!
🤗🙏🏼🌿
Visite a Vila Formosa e seu Santuário. Não moro mais no bairro. mas vou lá de vez em quando. Fui á uma missa no domingo 19/01/2020. Igreja lotada. Poucos conhecidos. O bairro está muito diferente. Cresceu demais!
ExcluirParece com a minha história, eu vivi esses tempos na Vila Formosa, cheguei com cinco anos em 1949 e mudei em 1966. Sinto muitas saudades desse período da minha vida.
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