sábado, 13 de setembro de 2014

As Flores do Jardim da Minha Mãe

AS FLORES DO JARDIM DA MINHA MÃE Eram os anos quarenta e nós éramos crianças. Nossa casa, construída aos poucos, cômodo a cômodo, ficava no meio do terreno, com entradas pelas duas laterais, num espaço de seiscentos metros quadrados. Na ampla área da frente, ficava o jardim da minha mãe. E ela cultivou com amor, um lindo jardim! Plantou muitas dálias vermelhas, amarelas, brancas. Não se conheciam ainda os crisântemos. As cravinas cor-de-rosa e os “brincos-de-princesa”, com suas flores de cor magenta, caindo em floridos cachos pesados, transmitiam uma beleza singela. Os cravos, brancos e vermelhos, eram muito perfumados, como nunca mais sentimos. Seria o cheiro das memórias infantis? Uma flor modesta e de cheiro diferente, não se poderia dizer perfume, era o “cravo-de-defunto”, de um amarelo forte. E gostávamos dessa flor estranha... Num canteiro maior, reinavam as margaridas com seus talos compridos e as flores todas brancas, o miolo amarelo. Ah! Não podem ser esquecidas as “sempre-vivas”, amarelas, de pétalas duras, sem perfume, mas duráveis. As samambaias de chão se espalhavam pelo jardim. Não se conheciam as várias espécies de samambaias, que depois se cultivaram em xaxins, e que bem mais tarde, foram substituídos por outras fibras, para a preservação dos próprios xaxins. Aliás, naquela altura, nem conhecíamos os tais xaxins. As flores do jardim da minha mãe eram quase todas de canteiros. Pouquíssimas delas eram cultivadas em vasos. Na maior parte, eram plantadas diretamente no chão. Não havia o hábito de se colocar flores em vasos, dentro de casa. Elas enfeitavam toda a frente do terreno, florindo cada uma em seu tempo e mantendo a cor variada do espaço no ano todo. Lembro-me das roseiras silvestres, que davam rosas miúdas em muitos cachos cor-de-rosa. Não se conheciam as rosas atuais de hastes longas, elegantes, mais tarde vindas de outras terras e produtos de cuidadosos enxertos. E como esquecer, as “onze-horas” de flores delicadas e frágeis? As “damas-da-noite” eram flores grandes e brancas que perfumavam levemente o anoitecer. Os “copos-de-leite” competiam com os lírios cheirosos, ambos de longos cabos. Na cerca ao redor do terreno, se espalhavam as flores de maracujá, roxas, e dizia-se que, símbolo da Paixão de Cristo. Depois das flores, vinham os maracujás amarelos e deliciosos. No quintal havia também algumas árvores frutíferas: limoeiros e pessegueiros, estes com florezinhas cor-de-rosa, prenunciando os frutos gostosos, dos quais se fazia um doce delicioso Voltemos às flores: As quaresmeiras roxas, nativas nas margens dos brejos, não eram plantadas no jardim. Somente essas, eram de vez em quando colhidas, e colocadas em vasos para enfeitar a casa. Uma atenção especial era dedicada às hortênsias azuis e às tão mimosas e cheirosas violetas. Minha mãe não cultivava a “coroa-de-Cristo”. Ela não gostava dessa flor rasteira. A planta tem grandes espinhos e suas flores miúdas praticamente não servem de adorno, sendo todo o conjunto, perigoso para as crianças. Onde minha mãe encontrava as mudas ou sementes para as flores, as verduras, as frutas? Penso que trocava com as vizinhas. Todas as casas ao redor tinham jardins, pequenos pomares e hortas. Certa vez passamos pela casa da Dona Mariazinha. Ela morava só, numa casinha bem ajeitada e tinha um lindo jardim. Entramos sem licença e colhemos uns dois ou três cravos... Dona Mariazinha foi em seguida, à nossa casa reclamar com a nossa mãe. Levamos um belo “pito” na hora! Nessa época, não se usava ainda a palavra “bronca”. Assim, convivíamos com a natureza: córregos limpos, plantas variadas e animais caseiros. As minhas mais belas e melhores lembranças desse tempo, se fixam nas flores do jardim da minha mãe. E já se passaram mais de sessenta anos! Deixo aqui, nestas páginas para os meus netos, um pouco dessa beleza que cercou a minha infância. NAZARETH LEMOS MALDONADO PERES. maio/2001 Pseudônimo: Espanhola NAZARETH LEMOS MALDONADO PERES Nota biográfica: A autora é natural de Itaboraí – RJ, onde nasceu em 1938. Vive na cidade de São Paulo – SP, desde os seus três meses de idade. Viúva, é mãe de três filhos e avó de sete netos. Lidou por trinta e oito anos no magistério público e particular. É professora aposentada da rede oficial de Ensino da cidade de São Paulo – SP - Ensino Fundamental I: 1ª a 4ª séries. É também aposentada do cargo de Supervisor de Ensino – Secretaria Estadual da Educação de São Paulo . Em 1968: pesquisou sobre a história do bairro de Vila Formosa, São Paulo – SP. A partir de fevereiro de 1983 e novamente a partir de outubro de 1989, teve publicada na “GAZETA DE VILA FORMOSA” São Paulo – SP, a “HISTÓRIA DE VILA FORMOSA” de sua autoria, em capítulos quinzenais consecutivos. Em outubro 2002: Teve entrevista e trechos desse trabalho, publicados na “REVISTA IN” do Tatuapé – São Paulo – SP. Em 2004: Participou do livro: “RECEITAS DE FAMÍLIA”, com receita premiada no concurso promovido pela “FOLHA” da Vila Prudente – São Paulo – SP. Em 2008: Participou no “PROJETO MEMÓRIA DO TATUAPÉ” com entrevista publicada na “GAZETA DO TATUAPÉ” - São Paulo – SP (semana de 12 a 18/10/2008).

Rosquinhas de Pinga - receita familiar

Ingredientes: 4 ovos 1 colher (sopa) de fermento 3 colheres (sopa) de margarina sem sal 1 xícara (chá) de açúcar farinha de trigo - pouco menos de 1 kg 1 litro de pinga (não vai gastar toda a pinga) Modo de fazer: Amasse numa vasilha todos os ingredientes e vá colocando a farinha até dar o ponto de enrolar.(pode colocar meia xícara de pinga na massa - nós colocamos). Faça os biscoitos enrolando um pouco da massa na mão passando um pouco de margarina para não grudar. Forme os biscoitos, numa rodela deixando-a com pontas. Vá colocando numa forma levemente untada um ao lado do outro. Não crescem. Levar ao forno quente. Depois de assadas as rosquinhas (não precisam ficar moreninhas), passe-as rapidamente numa vasilha com pinga e em seguida no açúcar. Na minha casa fazemos 3 receitas de uma vez e depois os visitantes ainda levam rosquinhas para casa. Tem que haver vários ajudantes para enrolar as ditas e passar depois, no açúcar e na pinga. É receita da vó Carmem espanhola, que ensinou às filhas que sua vez ensinaram às próprias filhas e sobrinhas. Bon appètit! Nazareth Peres Foto das rosquinhas prontas.